Professora de yoga curtindo o Carnaval? Pode isso!?

“Como eu vou levar a sério uma professora que está aqui, no meio de um bloquinho de Carnaval?”

Não sei você, mas eu estranhei muito quando ouvi essa frase uns anos atrás no meio de um bloco - no tempo que não existia Covid e todo mundo podia curtir o Carnaval na rua. A pessoa me conheceu nesse universo e não sabia exatamente quem eu era ou fazia fora dali. A conversa era justamente essa.

Na hora não soube direito o que responder e segui adiante, mas isso ficou na minha cabeça. Me questionava se estava realmente fazendo algo errado. Por algumas vezes, confesso, me escondi de alunos e colegas para não ter que dar explicações ou evitar o julgamento.

E por que eu não poderia estar ali? O que muda o fato de eu ser professora de yoga e gostar da festa?

Está aí um dos muitos rótulos que colocam na gente... as pessoas criam estereótipos e expectativas em cima disso. O que será que esperam, que todo mundo que trabalha com yoga goste de calmaria e retiros o tempo todo?

Assim como qualquer ser humano, eu também tenho – e preciso – das minhas válvulas de escape! Tenho minhas maneiras de me divertir. Dar aulas, lidar com pessoas, não é sempre fácil, calmo e tranquilo. São muitos os desafios – todos os dias. Além disso, quem me conhece sabe: eu amo Carnaval! E não é de hoje...

Quando criança passava os feriados no Guarujá e adorava quando meus pais me levavam as matines de um clube. Adolescente, já me deixavam ir com eles as festas a noite. Depois, comecei a ir sozinha, com amigos. Meu trabalho de conclusão da faculdade foi, claro, sobre o Carnaval. Um livro reportagem sobre uma escola de samba. Anos adiante me rendi de vez quando finalmente comecei a tocar na bateria de um bloco.

Para mim é uma sensação que não se explica. Mesmo estando ali todo ano – há quase 10 já – sempre me arrepio, me emociono. O som do surdo (o que mais gosto de tocar!) bate em cheio no meu coração. Gosto de olhar ao redor e ver as pessoas curtindo, cantando, dançando... Meu corpo vibra, pulsa! Acho que é um momento em que me permito ser, viver, deixar para lá as preocupações, papeis que desempenho e o estresse do dia a dia. Só estou ali!

Percebi que nem todo mundo pensava da mesma forma.

Carnaval faz parte de quem eu sou, está no meu corpo, na minha história, nas minhas experiências. A Amanda, seja ela exercendo a profissão que estiver naquele momento, continuará gostando e esperando ansiosamente pelo Carnaval! Penso que cabem tantas vidas dentro de uma vida, tantas Amandas dentro desta. Assim encontro meu equilíbrio.

Minha responsabilidade, profissionalismo e dedicação não mudam porque gosto de curtir, me fantasiar e tocar. Por isso, mesmo neste Carnaval diferente de 2022 (o que não vai ter, mas vai ter), com certeza estarei em algum lugar buscando aproveitar como puder.

Ah! E se você me encontrar por aí, tenha certeza que estarei com um sorriso no rosto, feliz de ter esse gostinho de novo! Quarta volto a programação normal, mas com aquele restinho de glitter que sempre sobra perdido no rosto ;)